No ano anterior, ganhara repercussão pública uma denúncia vocalizada pelo deputado Roberto Jeferson, do PTB, segundo a qual haveria um esquema de compra de votos para que parlamentares votassem em matérias favoráveis ao governo federal, gerando um escândalo político que restou conhecido pelo nome popular de “mensalão”. As denúncias abalaram o governo federal e geraram a formação de CPIs, cujas sessões eram transmitidas em rede nacional.
Tamanha foi a repercussão que se colocava em xeque a sobrevivência do governo ou a viabilidade da campanha de reeleição do presidente da República. A oposição cogitou da ideia de abrir processo de impeachment, mas não caminhou nessa direção. Não se sabe se a oposição considerava que o presidente estava suficientemente fragilizado e poderia ser derrotado nas urnas ou se avaliava que o presidente, ancorado em bons indicadores administrativos e econômicos e com a popularidade ampliada pelas política sociais, ofereceria resistência ao impeachment. O fato é que o presidente Luís Inácio Lula da Silva, pessoalmente poupado das denúncias desde o início, sobreviveu ao escândalo, rearticulou forças de apoio e se apresentou como candidato competitivo em 2006.
Entre as candidaturas com mais visibilidade, duas eram egressas das fileiras petistas. Uma era do senador Cristóvão Buarque, que havia migrado para o PDT. A outra era da senadora Heloisa Helena, inscrita pelo Partido Socialismo e Liberdade, PSOL.
O PSOL havia sido criado, em 2004, por impulso de parlamentares dissidentes do PT, expulsos da legenda por fazerem oposição aberta à inflexão pragmática do governo Lula. Um pomo da discórdia, por exemplo, foi a reforma da previdência. O principal rosto público na fase inicial do PSOL foi o da senadora Heloisa Helena, candidata da legenda à presidência da República em 2006. O escândalo que atingira o governo petista em 2005 potencializava a imagem da candidata Heloisa Helena como dissidente e parecia ampliar seu potencial eleitoral. De fato, em determinada fase da campanha, chegou a aparecer com cerca de 15% nas pesquisas, mas finalizou o primeiro turno com 6% dos votos, posicionada em terceiro lugar.
Na polarização principal, o primeiro turno foi concluído com a liderança de Lula, que alcançou 48% dos votos, enquanto Alckmin finalizou com 41%. Havia prognósticos de uma disputa acirrada no segundo turno, mas ocorreu um fenômeno curioso: Alckmin fez menos votos do que no primeiro turno, fechando com 39%. Isso representava cerca de dois milhões e quinhentos mil votos a menos do que no turno anterior. Por sua vez, Lula foi reeleito com 61% dos votos.
Segundo o sociólogo André Singer, o escândalo de 2005 implicou a perda de parte de eleitores que acompanhavam o PT e Lula em outras fases, mas houve a adesão de uma massa de eleitores que, antes avessa ao PT, incorporou-se por efeito das políticas sociais do governo. André Singer denominou esse fenômeno de Lulismo, cuja base eram os eleitores que se aproximavam do petismo por causa da liderança de Lula como presidente.