Opinião
A família mudou
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 31/10/2024 - 08:00
Filhos é necessidade ou projeção?
Ter filhos é um sonho para muitas pessoas. Há quem busque por uma maternidade ou paternidade por décadas de sua vida. Muitos relacionamentos amorosos se transformam em união focada na condição de serem pais. Quantos consideram que não há sentido duas pessoas viverem juntas sem terem filhos.
Na atualidade há uma indústria de fertilização. Laboratórios e técnicas que se aprimoram para realizar o sonho de se ser um pai e ou mãe. E os que buscam estes tratamentos estão dispostos a tudo.
A jornada para os que não conseguem ter de maneira natural vai dos tratamentos longos à adoção. Enfim, ter um filho é uma busca que se deseja para a realização de um sonho.
Mas, a questão é, o que é um filho ou uma filha? Tê-los é uma vontade realizada de quem gera ou adota, ou uma condição necessária para quem é criado em um “seio familiar”?
Vamos melhorar a questão, na condição da família na atualidade, há uma instituição sólida e estável que consegue gerar nos membros que a compõem uma influência? Há uma condição de formação familiar que demarque a identidade, define o caráter? Ou seja, a família faz diferença?
A família já esteve no centro da iniciação social.
No passado, não muito distante, a condição de viver em família era condição fundamental para a iniciação na vida social. Nada se consolidava se não fosse em família. As primeiras incursões no convívio social se deram pela condição familiar. Amizades eternas foram constituídas por laços de família.
A infância, por exemplo, era passada em grande parte, dentro do ambiente familiar. A vida na escola chegava mais tarde. Dentro da vida familiar era elaborado as primeiras projeções de sentimento e afetividade estável com aqueles que se tornaram ao longo do tempo nosso “porto seguro”.
Hoje, as crianças nascem e em pouco tempo já estão em trânsito em ambientes externos à família. Fora isso, os vínculos familiares e o número de membros da vida doméstica reduziram drasticamente. Avós, tios e tias, assim como primos, participam cada vez menos da formação do cotidiano da vida familiar. Perderam espaço para os professores e professoras, cuidadores, instituições especializadas na primeira infância.
Logo, a família não cumpre mais o mesmo papel que cumpria em um passado distante. Não podemos mais exigir dela que seja a resposta para os problemas que no passado lhes eram associados. A família mudou.
A mudança não é um mal ou um bem, apenas é condição da sociedade humana que tende a se transformar de maneira mais intensa ao não ao longo do tempo. Não há como evitar, não há como resistir às alterações que atingem as mais diversas instituições sociais.
Por isso, considero que a família continua relevante, mas não com a mesma forma e intensidade que no passado. Ela dura menos, se recompõe com o sabor da busca da afetividade, dos vínculos emocionais acima dos vínculos consanguíneos, e isso é bom.
Vamos saborear a família como uma conquista, uma liberdade, e não uma condenação. Vamos aprender a cultuar a família como um encontro de escolha e não uma imposição absoluta. Isto é prática saudável e fará bem.
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