Dirley Bortolanza é morador da cidade de Mandaguari, no noroeste do Paraná, a cerca de 30 km de Maringá. Vive no município de pouco mais de 30 mil habitantes desde que nasceu, em 1958. Hoje, aos 64 anos, é personagem fatídico da história da sua cidade natal. Isso porque tem uma vocação inusitada: é caçador de cobras.
Quem mora em Mandaguari certamente conhece Dirley. Seja pela marmoraria da família, onde trabalha desde jovem, seja pela sua proximidade com cobras – muitas delas venenosas.
E a história de Dirley com as serpentes começou há décadas atrás, quando tinha apenas seis anos de idade, como ele mesmo conta.
“Eu comecei [a pegar cobras] criança. Sempre morei perto da saída de Mandaguari e aqui tem uma floresta. Na infância eu ia dormir na floresta quando estava calor e quando aparecia alguma cobra, eu pegava. Eu pegava elas e levava pra casa, mas ai o pai mandava levar elas pra a mata de volta”, conta Dirley, dando boas risadas.
De tanto conviver no ambiente da floresta e lidar com as cobras quase que diariamente, Dirley, ainda criança, já havia descoberto um jeito de manusear esses animais sem que fosse atacado.
De tanto conviver no ambiente da floresta e lidar com as cobras quase que diariamente, Dirley, ainda criança, já havia descoberto um jeito de manusear esses animais sem que fosse atacado.
Mesmo lidando com serpentes – inclusive peçonhentas – há mais de 50 anos, Dirley conta que nunca foi picado. A proximidade e a facilidade em lidar com esses animais acabou ajudando muita gente.
De brincadeira na infância para trabalho sério na vida adulta
Com o passar dos anos, o hobby que Dirley adquiriu ainda criança foi se tornando um trabalho voluntário de muita responsabilidade. Na região de Mandaguari, abrangida pela fauna e flora da mata atlântica, encontram-se diversas espécies de cobras. Cascavéis, corais e jararacas são algumas das serpentes que, vez ou outra, acabavam aparecendo nos terrenos e casas dos moradores da cidade do noroeste do Paraná.
Dirley era e ainda é constantemente “acionado” para capturar as cobras que aparecem em residências e estabelecimentos de Mandaguari. Assim, ao apanhar as serpentes, ele as levava para casa – onde já chegou a ter mais de 200 cobras.
O marmorista, além de realizar o trabalho de salvamento desses animais, ainda fazia mais: Dirley, anualmente, enviava as serpentes peçonhentas que capturava para o Instituto Butantan, em São Paulo, para a produção do soro antiofídico. Ele conta que durante muitos anos essa foi a única opção que restava, já que não conseguia auxílio das entidades locais para dar às serpentes um destino adequado, sem que elas voltassem a aparecer nas casas.
As cobras fazem parte da família
Dirley conta que quando conheceu a sua esposa, em meados dos anos de 1990, ela já conhecia seus hábitos, mas que, no começo, tinha medo das serpentes.
“Eu ia namorar e levava umas cascavéis dentro do carro e as cobras sempre ficavam soltas. No começo ela [a esposa] tinha medo, mas depois foi acostumando. A gente ficava a noite inteira namorando e as cobras ficavam lá no carro com a gente”, conta o encantador de serpentes de Mandaguari.
Dirley logo casou com a namorada, Lucimar. Juntos, o casal teve um filho, Dirley Filho, que hoje é biólogo e mestre em biologia, e ao que tudo indica, herdou a paixão por cobras do pai.
Cobras à mesa
A família é tão apaixonada pelas cobras que durante as refeições os animais ficam em cima da mesa, enquanto os três comem. A companhia das amigas cobras é indispensável à família Bortolanza.
Entretanto, não pense que a companhia das serpentes termina por aí. Além de serem frequentadoras assíduas da residência Bortolanza, as cobras ainda passeiam com Dirley.
“Elas adoram ir em restaurantes. Quando eu vou em restaurantes, eu levo uma meia dúzia. Elas ficam em cima da mesa e adoram. Ficam na mesa, não descem”, diz.
‘Cobra é minha segurança’
Dirley ainda conta que as pessoas gostam das cobras e a excentricidade desses animais. Há quem pede para tirar fotos, gravar vídeos ou tietar, mesmo que de longe.
“Quando vou ao banco, eu sempre levo uma cascavel comigo. E levo a cobra para a minha segurança. A caixa me atende normal. Os seguranças me deixam entrar. É tudo muito natural”, diz.
Há quem goste do animal, mas há também quem prefira manter distância das cobras. Na marmoraria da família Bortolanza, os funcionários não são muito familiarizados com as serpentes.
“O pessoal da marmoraria morre de medo, mas às vezes eu trago [as cobras] porquê eu as pego enquanto estou trabalhando, aí eu fico trabalhando com elas aqui e depois levo pra casa”, diz.
Mesmo com o carinho pelas cobras, o “caçador” conta que nunca deu nome para nenhuma das milhares que já capturou. Como sabe que os bichos vão embora, acaba não criando apego emocional.
As cobras fazem parte da vida de Dirley. Por conta do seu trabalho, ganhou reconhecimento nacional, seja pela curiosidade que desperta, seja pela ajuda que promove aos laboratórios que produzem soro contra a picada de serpentes. Até entrevista para o Rodrigo Faro, Dirley já deu.
Cobras no caixão
Quando abrigava muitas cobras, para receber visitas, como equipes de reportagens, ele as colocava em um caixão preto. Dirley afirma, inclusive, que é ali que ele será enterrado. Mas, enquanto isso, o local, feito de madeira de Santa Bárbara, já serviu para abrigar as serpentes. Isso porque quando estão lá dentro, elas não atacam.
Uma vez, Dirley chegou a entregar voluntariamente, de uma vez, mais de 150 cobras para a Polícia Ambiental. Ele calcula, porém, que já chegou a ter mais de 200 serpentes em casa, onde destinada um quarto só para as cobras. Atualmente, entretanto, o “caçador de cobras” não abriga mais os animais por longos períodos. Seu contato com as “visitas” hoje é temporário. Vez ou outra resgata uma aqui e outra ali e logo as destina para um lugar certo: seja devolvendo à floresta ou enviando-as para o Butantan.
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