Pai de sete filhos, formou a família que tanto sonhou. Realizou quase todos os sonhos, só faltou um, diz ele: construir a sua banca de engraxate, em um ponto fixo, onde possa trabalhar sob chuva ou sol. Desde sempre, trabalha embaixo das marquises da avenida Getúlio Vargas, esquina com a rua Santos Dumont. É nessa calçada, onde diariamente milhares de pessoas passam, e algumas utilizam o seu serviço, que Baianinho Engraxate construiu a sua história. Os 57 anos de história do baiano mais maringaense de todos.
Figuras maringaenses
Conheça a história de ‘Baianinho’, engraxate há 57 anos em Maringá
Cidade por Iasmim Calixto/GMC Online em 21/08/2022 - 16:16Ele trabalha como engraxate há 57 anos no mesmo ponto localizado na avenida Getúlio Vargas. Em 2017, recebeu o título de Cidadão Benemérito de Maringá. José Xavier, ou Baianinho Engraxate, como é popularmente conhecido, coleciona décadas de história no coração da Cidade Canção.
Natural de Jacobina, no sertão da Bahia, o tão maringaense Baianinho conta como chegou à Maringá. Relata que veio fugido do nordeste brasileiro. Não conheceu o pai, nem a mãe. A única família que teve foi a formada pelo tio e pela tia, mas que quando chegou no Paraná, fugiu deles. Apanhava muito e, por isso, sentia a necessidade de ir embora. Foi criado pelo mundo, livre, como quis.
“Cheguei da Bahia de pau-de-arara e a única solução que eu tive, naquele tempo, era trabalhar. Colher café, vender salgados ou vender sorvete não deu certo. A única profissão que deu certo foi a de engraxate. Quando eu cheguei em Maringá, eu morava na região do Maringá Velho, e para entrar aqui na região central era muito difícil, eram muitos engraxates, aqui era o ponto fixo. Eles eram todos maiores do que eu, grandes, e eu entrei mesmo na luta, tomando o meu espaço para trabalhar. Tinha muito serviço, as ruas eram de terra, muito barro. Eu fui pegando conhecimento e devagarinho fui ficando… e ‘tô’ aqui até hoje”.
Engraxava sapatos de dia e vendia jornais à noite. Por muitos anos, no começo da sua história com Maringá, essa foi a rotina de José Xavier, que conta cheio de orgulho sobre o dia que vendeu um jornal para Pelé, que na época estava hospedado no Hotel Bandeirantes, no centro de Maringá.
“Vendia os jornais da Folha do Norte, Tribuna de Maringá, Última Hora (SP), Estadão (SP), Estado do Paraná, Folha (SP) e O Globo (RJ). Tinha revistas que eu vendia também, a Manchete e a revista Cruzeiro. Cheguei a vender um jornal para o Pelé. Não tinha muita noção de bola, não era muito fã de futebol na época, mas vendi um jornal para o Pelé”, relembra Baianinho.
A vida como engraxate rendeu a José Xavier muitas histórias. Conheceu muita gente famosa e importante. Fez amigos, construiu família. Ganhou e perdeu. Viu a evolução da Catedral (que chegou a dormir em noites que precisou de abrigo), que passou de uma igreja de madeira a maior catedral da América Latina. E essa é a vida que o Baianinho Engraxate leva há quase 60 anos no centro da Cidade Canção.
Engraxou os sapatos de grandes nomes da política paranaense, como Álvaro Dias e Roberto Requião. Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo, também teve os sapatos lustrados por Baianinho.
É com as mãos marcadas por mais de cinco décadas de trabalho que Baianinho figura como um dos principais personagens das ruas de Maringá. Simula sons ritmados ao samba enquanto faz o polimento de cada sapato. Mas diz que não parou no tempo. Para atingir novos públicos, também ‘dá um trato’ em tênis, botas e até mesmo sandálias.
“Não tenho leitura, mas desde pequeno sempre tive muito respeito por qualquer pessoa. Muitos clientes viraram amigos. Muitos me acolheram”, conta o engraxate que durante o lockdown ocasionado pela pandemia da Covid-19 recebeu ajuda financeira de muitos amigos enquanto não podia trabalhar.
No ano de 2017, foi homenageado com o título de Cidadão Benemérito pela Câmara de Vereadores de Maringá. A honraria é o mais alto título que um cidadão pode receber do poder legislativo. A história de Baianinho Engraxate e a história de Maringá se confundem em muitos momentos. O engraxate, retirante, é tão maringaense quanto as ruas do centro de Maringá são parte dele.
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