A luta do movimento negro teve um marco histórico em Maringá em 20 de novembro. Nessa data, em 2019, a Universidade Estadual de Maringá aprovou o sistema de cotas raciais. A CBN esteve presente, e lembra como foi. 20 de novembro é o dia da consciência negra.
Em resumo, o embate foi longo - durou aproximadamente um ano, de forma oficial, claro. A partir de 2018, o coletivo negro Yalodê-Badá e o Neiab, Núcleo de Estudos Afro-brasileiros, da UEM protocolaram, junto à reitoria, o pedido de implementação de cotas raciais. Desde então, discussões em comissões, apresentações públicas e o debate na imprensa foram feitos. Em público, tudo seguia protocolo. No bastidor, teve muita movimentação. Campanha envolvendo professores, alunos. O movimento negro sentia que as pessoas ainda não entendiam o racismo estrutural.
Depois de muito embate e choro, o resultado chegou em uma quarta-feira, 20 de novembro. Em meio a um auditório lotado, a UEM aprovou a implementação dessa ação afirmativa.
A decisão foi do CEP, o Conselho de Ensino e Pesquisa, composto por professores de graduação e de pós-graduação. A votação terminou assim: 98 votos favoráveis, quatro contrários e sete abstenções.
No momento de declarar o resultado, o reitor da UEM, professor Julio Damasceno, se emocionou. [ouça no áudio acima]
Foi um momento de muita emoção no auditório do bloco C34, onde ocorreu a reunião do CEP. Pessoas favoráveis à implementação se abraçaram e choraram. O psicólogo Paulo Vitor, do coletivo Yalodê-Badá, ainda emocionado, conversou com a CBN.
Ele falou que aquele era o momento de ficar em cima para ver o sistema ser implementado. E disse que ainda não havia caído a ficha de que eles estavam fazendo história. [ouça no áudio acima]
Na prática ficou assim: 20% das vagas dos vestibulares a partir de 2020 são para cotas raciais. Desse total, 15% levarão em conta não só a cor da pele como critérios socioeconômicos. 5% são livres. O candidato irá se autodeclarar, e uma comissão irá avaliar se o dado é correto.
Ao longo da reunião do CEP, naquela quarta-feira, houve momentos de tensão. Após um professor ter falado que era favorável às cotas, mas que temia evasões futuras e menos ingresso de pessoas não negras, ele foi vaiado.
Para o reitor Julio Damasceno e o vice-reitor, professor Ricardo Dias, sentimento de dever cumprido. Eles haviam prometido na campanha à reitoria, em 2018, que apoiaram a ação afirmativa.
O estudante de letras Bruno Barra foi um dos que se mobilizaram pela aprovação das cotas. Teve desgaste, mas valeu, disse ele. [ouça no áudio acima]
Com a decisão, a UEM passou a ter dois sistemas de cotas: a racial e a social.
Embora o número divulgado seja de 20% para o sistema de cotas, há quem entenda de forma diferente. É que esse percentual é sobre os 80% de vagas para o vestibular. A UEM reserva o restante, 20%, para o PAS, o Processo de Avaliação Seriada.
com a implementação das cotas raciais, todas as instituições de ensino superior públicas do Paraná passam a ter alguma ação afirmativa para a população negra.
Dados daquela época apontavam que 20% de alunos eram negros, de um total de 17 mil estudantes. O grupo ERA composto por alunos pretos e pardos. Do restante: 66% são brancos, 6% são amarelos, 0,4% são indígenas, e 8% não se declararam.
O primeiro vestibular com esse sistema de cotas ainda não foi realizado devido à Covid-19. As inscrições estão abertas até o fim deste mês. As provas ocorrem no ano que vem.