A difícil tarefa
Uma reportagem de Luciana Peña sobre a mobilização da população da Zona 6, em Maringá, contra a instalação do Centro Pop, que é um Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua, chamou minha atenção.
Os moradores reclamam da fragilidade do bairro, antigo, com uma grande população de idosos, um grande número de escolas, casas antigas, de muro baixo, e sem proteção. Segundo moradores entrevistados. O bairro já está sem a atenção do poder público e corre riscos com a instalação do Centro Pop. Os precários não querem os miseráveis.
Em outra reportagem, de Carina Bernardino, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu, teve a fiação de sua sede roubada. O número de telefone para chamadas de urgência, 192, não está atendendo. Para poder continuar prestando o serviço à população, a unidade se transferiu para o 5º Grupamento do Corpo de Bombeiros, em Maringá. Está atendendo agora pelo 193.
Com entender as duas situações? Elas expressam a contradição de quem presta um serviço para a população. Quem tenta tirar a população de risco das ruas. Porém, as pessoas de pouco recurso temem os que não tem recurso nenhum.
No outro caso, os que tentam salvar vidas de pessoas com problemas de saúde, vítimas de doença, acidente, fatalidade, o Samu, são impedidos pela ação criminosa de bandidos miseráveis. Os criminosos devem ser punidos. Às vezes, os que agridem são as próprias pessoas que são atendidas.
Não há o que questionar, quem roubou deve ser preso. Mas quem mais contribui para a morte das vidas são os que desviam recursos públicos da saúde, da segurança e provocam as mortes “por quilo” sem sentir seu cheiro. O desvio de recursos públicos de áreas vitais como saúde, educação e segurança é um crime hediondo, um extermínio.
O que transforma os problemas sociais em grandes dilemas, a difícil tarefa de salvar vidas, é a precariedade de recursos, o papel de estar na linha de frente no combate à miséria e os riscos que isso traz. Muitos dos que governam não precisam enfrentar os dilemas da miséria, da população e se avizinhar de seus problemas. Eles não serão incomodados sem seus ambientes seguros. Eles vivem em “outro país”, sustentado pela miséria deste.
Em outubro, nas eleições, lembre-se disso, meu caro eleitor, leitor e ouvinte. Os que se beneficiam com a miséria não se avizinham com os miseráveis e muito menos dependem de um número para poder lhes socorrer de um problema fatal. Talvez isto tenha uma relação com as promessas de solução que não se cumprem e com a permanência no poder de quem nunca nada resolve.