O apresentador Danilo Gentilli foi condenado pela Justiça por injúria contra a deputada Maria do Rosário (PT), do Rio Grande do Sul. Em 2016, Gentili postou nas redes sociais que a parlamentar era “sínica”, “nojenta”, “falsa” e, também, “puta”. A condenação foi de seis meses e 28 dias de prisão em regime semiaberto.
A condenação levanta a questão de até onde vai a crítica. Ela não tem limites? Claro que tem. Deve ter. Não podemos considerar que a crítica, que é algo necessário, pode ser feita de qualquer forma. Ela precisa ter uma forma de mínimo de respeito. O que não implica em ter limites na crítica que se faz. Pode se falar tudo, mas há que se usar meios para isso.
O problema é do espetáculo que as polêmicas trazem. O quanto que um extremo gera debates, faz levantar posicionamentos, acaba por proporcionar destaque aos envolvidos e quem se envolve na discussão. O espetáculo vale mais do que o conteúdo do que está sendo exposto. Estamos sempre prontos a dialogar com as afirmações tolas, infantis e sem respeito, de lado a lado.
Quantas veze já se viu as críticas feitas a mulheres, negros, homoafetivos, minorias de forma geral, ganhar espaço e fôlego na imprensa vindo das redes sociais. Estamos vivendo o tempo de falar bobagens e transformá-las em temas relevantes. Acredito que há outras coisas relevantes para nos preocuparmos. A falência do Rio de Janeiro e suas catástrofes. Uma cidade cheia de minorias expostas a problemas por falta de investimento em um Estado lapidado por corrupção.
Gentilli continuará seu curso com um pouco mais de destaque, assim como a deputada ofendida, Maria do Rosário. Continuaram como personagens de um ambiente carregado de ofensas excessivas e prontas para ganhar a vitrine das manchetes. Sendo, muitas vezes, o ponto fundamental de nossa preocupação. Na democracia, há quem goste e que saboreie as farpas entre o nada e coisa alguma.
Mas há preocupações maiores a serem respondidas. A ações judiciais necessárias, que ainda se espera, para punir que expõe uma população de uma cidade inteira ao risco por falta de infraestrutura. O Rio de Janeiro clama por ações de justiça. O abandono da população é uma ofensa bem maior do que as redes sociais.
Claro que são fatos que não devem ser comparados. Um é uma questão moral, o outro uma questão de problema crônico e estrutural. Porém, na proporção que são diferentes, devem também despertar interesses distintos.
Ao final, quer considerar que Danilo Gentili tem o direito de criticar. Todos temos. Podemos falar o que consideramos necessários, mas da forma certa. O que me incomoda é a proporção do superficial ganhar proporções que deveriam ser ocupadas por temas essenciais. O valor que demonstramos pelas coisas e temas é a denúncia de nossa consciência sobre o mundo a nossa volta.