Passagem de ano é sempre um momento de esperança. Temos sempre nossas “crenças” e supertições sobre um ano que começa. O calendário cristão conta o tempo e nos rituais de passagem, que tem inúmeros significados, se eleva. Roupas, comida, fogos e soma do tempo se juntam para nos dar o momento em que algo vai acontecer. Na frieza da razão, é apenas mais um dia.
O calendário de compromissos, contas a pagar, formação das pessoas, fisco, na burocracia e nas regas da vida, a contagem do tempo também tem sua função. Precisamos ter sobre o tempo certo controle. No dia a dia, nas horas, no calendário na parede, a racionalidade ajuda a colocar ordem na vida. Porém, o que vamos viver na meia noite de hoje é uma simbologia maior. Não será apenas um dia atrás do outro.
2018 foi o ano em que demonstramos o quanto o espetáculo foi maior que a racionalidade. Da prisão do ex-presidente aos embates pirotécnicos das medidas, das ações e reações, fomos mais simpáticos à aparência do que a essência. Da prisão de um ex-presidente da eleição de outro, despejamos em um único corrupto toda a nossa raiva e em um único candidato a esperança. Mas mudamos nossas relações diárias, aquela do dia a dia do calendário.
Cícero, cônsul e filósofo romano, no Século I, considera que o representante público expressa o perfil do povo. Ele não erra ao afirmar isso. Espelhamos nossa face em nossas escolhas. Sejam as que vão para trás das grades ou as que sobem a rampa do Palácio do Planalto. Lembrando sempre o nosso direito de mudar. Lembrando sempre, que quando mudamos ou escolhemos, nossos critérios, valores, denunciam nossas intenções.
Por isso, o calendário é a passagem quantitativa do tempo. Necessária para a racionalidade da vida. Também necessário é o simbolismo que estabelecemos nas datas e passagens. No decorrer do tempo caminhamos seguindo valores e agimos dando sentido ao tempo. Se cumprimos com racionalidade nossas metas, elas só tem sentido nos significado que damos a vida. Por isso, a passagem de ano tem seu valor. Mas não resolve em si nossos dilemas e problemas. Eles continuam ou não conforme conduzimos a vida, todos os dias, independente das passagens simbólicas.