Nada é mais lucrativo do que as contradições que a cidade vive. O mercado envolve a necessidade dos indivíduos. Todos buscam satisfazer seus interesses. Mas há a necessidade social que nem sempre vigora sobre os interesses particulares. No mercado imobiliário a lógica se sustenta.
A queima e desabamento em um prédio no centro de São Paulo acaba por denunciar o descaso com o patrimônio público. O edifício que ruiu pertencia a União, teve vistoria feita pelo Corpo de Bombeiros que decretou a inviabilidade do prédio, mas invadido, ocupado por “sem-tetos” impulsionados por ONG, o risco real se transformou em tragédia. Não se sabe ainda o número de mortos, mas há.
Muitos desabrigados. Pessoas sem casa que invadiram o prédio para ter um teto. Impulsionados pelo desejo de uma casa própria. Porém, ninguém quer morar longe da cidade. Todos desejam um cadinho da parte mais acessível ao emprego, as melhores condições de sobrevivência. Não se resolve o desalojado dando a ele uma moradia em áreas distantes de onde trabalha. O gasto e tempo com deslocamento inviabiliza a vida no lugar. Ele quer ficar onde o metro-quadrado é mais caro. Não dá.
A baixa renda em áreas de maior valor desvaloriza o espaço imobiliário. Logo, é preciso gerar condições de deslocamento e não de moradia. A cidade restringe espaços e privilegia o mercado. Desprezar o entorno das cidades. Virar as costas a integração da população é um risco elevado. Por isso, os miseráveis podem gerar lucro e tensão. Os investimentos em segurança e a multiplicação dos condomínios verticais, demonstram o quanto os conflitos urbanos preocupam e geram oportunidades de investimento.
Maringá é uma cidade planejada, mas tem locais em que há a ocupação de prédios abandonados. Longe das tensões que uma grande cidade como São Paulo gera. Porém, há uma desigualdade que movimenta a cidade. O número de moradores de rua aumenta visivelmente. Quem nada tem busca os lugares anunciados de riqueza e bem-estar. Por isso, temos que saber planejar, Maringá se orgulha disso.
Contudo, planejamento tem que levar em conta uma região e não só uma cidade. Não estamos isolados. Somos um lugar de ir e vir. A cidade é movimento. Porém, pode prever tensões e garantir um mercado que se valoriza. Para isso, não pode esquecer nas complicações que o desejo individual pode ocasionar para os interesses coletivos. Estamos com o debate sobre um Conselho de Planejamento Urbano. Temos um Codem que desenvolveu o Masterplan. É bom o poder público e privado falarem a mesma língua. Porque conflitos urbanos podem fazer a cidade perder o tom.