Diesel, para quem?
Medidas tomadas pelo poder público com foco na melhora da estrutura acabam por denunciar a desigualdade entre benefícios e beneficiados. Em plena Ditadura Militar (1964 a 1985) esta lógica foi uma constante. A política energética é um exemplo. Na busca de alternativa para os combustíveis derivados do petróleo não se resolveu a logística e nem a mobilidade.
O diesel no Brasil atende ao transporte, afinal é o principal combustível dos veículos rodoviários e ferroviários. São nos caminhões que se transporta mais de 60% da riqueza nacional. Mas é também o combustível dos mais ricos. Daqueles que podem comprar um veículo, considerado “utilitário”, caminhonetes de luxo, para poderem usar no dia a dia.
Na década de 1976, logo após a decadência do chamado “Milagre Econômico”, momento em que o Produto Interno Bruto do País (PIB) cresceu significativamente, acima dos 7%, se estabeleceu uma crise mundial do petróleo.
Um ambiente de incertezas que colocava em “xeque” os investimentos no desenvolvimento estrutural do país. Então, diante disso, a Ditadura Militar (1964 a 1985) lançou mão de medidas para reduzir o consumo de derivados de petróleo e gerou programas alternativos para a produção de energia.
O Proálcool foi lançado em 1975. Um programa com incentivos do governo para a cadeia produtiva do etanol, assim como, para as montadoras que produzissem veículos movidos com o combustível de origem vegetal. A medida deu certo, inicialmente. O país chegou ao final da década de 1980 com 60% dos veículos movidos a etanol.
Em 1976, para forçar o uso do etanol nos veículos, o Governo Proibiu a comercialização de veículos a diesel. Assim, o combustível ficaria restrito aos meios de transporte. O Governo Federal subsidia o custo do diesel. Sua produção tem um custo mais elevado que a gasolina.
No dia a dia, ao final da história, se propagaram os carros flex (gasolina e etanol) e o diesel continua restrito. Com a atual medida do Governo Federal, diante da greve dos caminhoneiros, de reduzir o preço do diesel na bomba de combustível, não só os caminhões foram favorecidos, os que podem ter veículos a diesel, de custo mais elevado, também.
A especulação do preço dos combustíveis continua enorme. Se discute todo o dia a responsabilidade por um valor tão alto pelo derivado de petróleo no país. Um comércio lucrativo, monopolizado pela Petrobrás e controlado por distribuidoras. Fora a política de preço feita por comerciantes do setor em todo o país. Muitas vezes, abusiva.
O país sem uma política de logística de transporte e mobilidade urbana se vê sequestrado pela dependência do caminhão e do automóvel, ou motocicletas. Meios de transporte arriscados em rodovias de péssima qualidade e cidades congestionadas. O número de acidentes, muitos com vítimas fatais, é uma demonstração do custo social da falta histórica de uma política coerente para o setor.