Estamos rodeados de objetos sedutores. Nunca a ambientação de produtos foi tão pensada, engenhada, voltada a seduzir o consumidor. O ser humano encantado pelas coisas a sua volta não consegue resistir ao encontro magnífico com o bem de desejo. Muito do que se adquiri tem na relação do ambiente e com o vendedor a decisão de compra ou não.
A imagem que temos dos bens que desejamos extrapola a função. Mais do que seu uso, a forma como se apresenta acaba por se transformar em uma relação mais intensa, determinante. Querer não está mais ligado ao que se quer, mas a forma como a relação de adquirir se dá.
Falamos na atualidade de que os produtos no mundo do mercado têm que ir além de sua função, tem que ter uma identidade. Eles são a expressão da personalidade que o consumidor busca. Deseja-se o bem e se quer fazer dele uma expressão da identidade. Ao ver as coisas a minha volta estendo até mim o sentido que os objetos carregam.
Assim, vamos nos transformando no homem-objeto. Intensificamos como uma “filosofia” de vida a publicidade. O que se define na frase pronta na propaganda de determinado produto passa a ter mais a dizer de quem consome e se associa a ele. O cenário onde o objeto está é uma extensão de sua grandiosidade e poder. Ter o determinado bem é, por osmose, ter seu poder.
Assim, a decisão de consumo, de ter, deixa a lógica da necessidade objetiva e invade a necessidade subjetiva. Supre a carência, ocupa a lacuna da onde a falta de autoestima. Precisamos nos posicionar diante dos outros. Nada melhor do que um objeto de consumo desejado por todos e adquirido por poucos para nos elevar socialmente.
Se queremos ter uma vida financeira mais regrada, temos que ir além da relação entre o quanto se ganha e o quanto se gasta. Precisamos aprender a nos relacionar com o ambiente sedutor de consumo. Dominá-lo e não ser dominado por ele. Compreender que há uma engenharia pensada para seduzir, entender que isso faz parte da lógica do consumo. Ter consciência que isto pode levar a excessos.
Outra questão fundamental, é gostarmos mais do dinheiro do que as coisas que ele compra. Entender que o rendimento deve ser valorizado mais do que o gasto, a compra, o consumo. Trabalhamos para poder ter recursos financeiros, eles não podem se transformar em algo que se descarta por qualquer motivo.
A velha lógica vale, o dinheiro é um meio, não um fim em si mesmo. Contudo, ele deve ser usado para fins de longa duração e não para escorrer nas mãos do imediatismo.