Rua: lar doce lar
Uma operação chamada Inverno, feita pela prefeitura em conjunto com instituições do terceiro setor e religiosas, buscou retirar das ruas pessoas em situação de risco. Fizeram 72 abordagens, mas apenas sete quiseram ser abrigados. Porém, todos aceitaram os cobertores oferecidos para enfrentar o frio. Mas o que faz estas pessoas continuarem morando na rua, mesmo quando abrigos são oferecidos, por mais que temporários?
Para muitos nesta condição esta é uma escolha e não a falta dela. Pode parecer estranho, e é. Mas morar nas ruas é uma opção quando outras oportunidades aparecem, para quem está em uma situação de risco. O hábito criado é incorporado como um cotidiano estável. Esta lógica foge do que a maioria das pessoas considera aceitável. Porém, temos que entender as “vantagens” que morar na rua oferece para quem não tem muita perspectiva além desta.
Há uma população desqualificada e desprendida das relações familiares, dos laços de afetividade tradicionais que conhecemos. Por mais que muitos dos moradores de rua têm uma família, sabe onde ela está, mas não pretende conviver com ela. Há vantagens em viver de favores e ao relento. Passar de um lugar para o outro, viver da contribuição alheia, que rende mais do que a obrigação e a pressão do trabalho formal. Não ter regras e construir uma relação diária com o inesperado. Não se viverá muito nesta condição. Uma vida curta poder acabar hoje, ou durar mais alguns dias.
Porém, isto traz efeitos negativos para o ambiente urbano. Atrai a violência contra e promovida pelos próprios moradores. Não se considera que todos os que habitam as ruas tem uma prática agressiva, mas ao se exporem, estão sujeitos a ela. Muitos são usuários de drogas, ser abrigado significa ter que parar com o consumo e ter dificuldade de ter acesso ao vício.
Com o desemprego, o número de moradores de rua aumenta. A desqualificação é parte do perfil desta população em condição de risco. Sua presença em locais de movimento comércio, lazer e deslocamento traz insegurança. Prejudica os negócios. Dificulta a vida de parte da população. Nem todos convivem bem com o morador de rua. Alguns deles vivem no submundo. À noite se escondem em prédios, pontes e túneis. No rebaixamento que passa o trem, no Novo Centro, isto é uma realidade. Há quem se abrigue lá.
Algo precisa ser feito. Porém, nunca vamos extinguir o morador de rua definitivamente. Ele surgirá, em grande ou pequena quantidade. O que não podemos é deixar se proliferar. Manter um controle e monitoramento. Para o bem deles, tanto quanto para a manutenção de um ambiente necessário para o cotidiano urbano. Eles são exceção e não regra.