Mas há quem tente. Quando se fala de política, a vocação ao populismo e a busca de popularidade é um aspecto do representante público. Temas polêmicos são os que expressam esta busca de conciliar o conflito entre “deus e o diabo”. Impossível.
A Lei que busca regulamentar a abertura dos mercados aos domingos e feriados é uma delas. De um lado há a manifestações contrárias a abertura. Argumentando a defesa dos dias de descanso do trabalhador, a perda de um “dia sagrado” aos cristãos católicos e, até mesmo, a perda de clientes pelos mercados dos bairros, atingidos pela concorrência das grandes redes.
Do outro lado, as oportunidades de trabalho que a abertura dos mercados permite. Foram 439 novos postos de trabalho em um período de crise, desemprego. Fora isso, atende a clientes que não podem ir ao mercado durante a semana. Ao mesmo tempo, garante um custo menor dos produtos nos supermercados do que o mesmo produto fosse comprado em um mercado local.
O projeto pode alterar até mesmo o funcionamento das lojas dos shoppings e panificadoras, como está no texto. O executivo municipal teria o poder de decidir quem funciona ou não. Um excesso de mando desnecessário. Mas popular e autoritário.
Diante da polêmica, os vereadores retiraram o tema de pauta e vão observar as propostas de ementas feitas pelos representantes do setor. Ou seja, as sugestões dos lados inconciliáveis não se conciliam. Mas diante do necessário e do demagógico é sempre uma saída protelar a decisão.
Alguns esclarecimentos importantes sempre ajudam a elucidar. O setor de supermercados é um dos que mais tem rotatividade de funcionários, mesmo sem a abertura aos domingos e feriados. Logo, o trabalhador não costuma fazer carreira no setor. Discutir o seu trabalho aos domingos e feriados é discutir uma condição temporária.
Agora, na retórica do populismo, os estabelecimentos familiares nos bairros, estes, podem trabalhar aos domingos, afinal, sendo cristãos católicos e trabalhando arduamente, são empresários. A fé professada vale para o assalariado e não para o micro empresário. O assalariado se explora aos domingos, já o empresário tem uma oportunidade de negócios, segundo os demagogos.
A tecnologia é outro fator a se pensar. Ela cresce, amplia sua influência nos setores supermercadistas. Deve chegar em breve e colocar abaixo a necessidade de um grande número de trabalhadores nas redes de supermercados. Facilitando a vida do consumidor e ampliando os lucros e reduzindo os assalariados. Os que permaneceram terão que se afinar com as condições técnicas. Terão que ser qualificados. E isto, grande parte da força de trabalho no país não é. E, se quiser ser, terá que se esforçar, inclusive aos domingos e feriados.