O patriarcalismo que nos formou ainda mostra sua herança. Há no decorrer da vida a educação de valorização da figura masculina na liderança, seja na autoridade familiar, na política e mesmo nas empresas. Os números não negam a propensão. Segundo dados do Banco Mundial, analisados pelo Projeto Mulheres Inspiradoras, o Brasil ocupa a 115ª posição entre 138 países, em relação a participação das mulheres no parlamento. Ruanda, na África, tem 63,8% do parlamento nacional composto por mulheres, a Bolívia, na América Latina, tem 53,1%. O Brasil, tem 10%.
As mulheres em cargos de chefia nas empresas é outro percentual em que nosso desempenho ruim, 37%. No topo do comando das corporações elas são apenas 7%. A pesquisa é da Women in the Boardroom. Na Noruega o índice é de 42%. A cultura de discriminação da mulher dentro das relações de trabalho vai além dos índices. As vezes passa de forma imperceptível e naturalizada.
Agora, pela primeira vez, a Polícia Militar tem em seu comando uma mulher, Audilene Dias. Nomeada pela governadora Cida Borghetti, a coronel é a número um da PM, uma profissão marcada pela estética da masculinidade. Um país onde o machismo e o patriarcalismo são considerados, ainda, mesmo com mudanças, uma naturalidade. Isto pode ser um bom começo e resultado de mudanças.
Não podemos esquecer o quanto a posse de uma mulher em uma instituição que tem como sua função o uso da força, legítimo e autorizado enquanto representação do Estado, fará muitos repensarem o papel delas na sociedade. Se quer dos cargos a eficiência de sua função, independente de quem esteja a frente, mas a oportunidade de responder a altura é o princípio de uma reformulação do conceito de segurança dentro do aparato de poder.
Uma decisão acertada pela governadora. Uma forma de fazer justiça ao comando da PM, ao grande número de policiais que tem um modelo a se inspirar e uma resposta a dar dentro do seu ambiente de trabalho. A palavra respeito no mundo do trabalho pode se estender para outros lugares onde a mulher sofre discriminação.