A Copa do Mundo que está ocorrendo na Rússia, por enquanto com a nossa participação, e traz à tona a questão do que significa o futebol em nossas vidas. Para começar, vale lembrar, o futebol é um patrimônio cultural do país. O esporte é uma identidade pátria. Não o inventamos, mas nos identificamos com ele e nele. Ao praticarmos, ao prestigiarmos, nos unimos no ato. Sei, não é uma prática de todos, mas da maioria, com intensidades diferentes. Também é um exercício de emoção e tradição. Impossível não considerar uma análise do Brasil sem olhar a nação da arquibancada.
Mas todo este argumento anterior é uma expressão simbólica. Aqui não é uma declaração de amor ao esporte. Não sou a medida da paixão dos brasileiros pelo futebol. Meu sentimento é mediano, até fraco em certo sentido. Porém, como cientista social eu não posso desconsiderar que há valor, peso e relevância do esporte no que representa para o povo, para a massa. Há uma pátria, vez em quando, de chuteiras.
Porém, até onde a paixão pelo esporte pode nos cegar diante de outros problemas? Pouco, se puder dar a ele a medida certa. Repartições públicas, empresas privadas, reorganizam seus horários para permitir a seus funcionários que assistam aos jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo. Isto é ruim? Não. Faz parte da idolatria cultural. Do sentimento pátrio. Da mesma forma, guardas as devidas proporções, a tourada é cara aos espanhóis, mesmo com a questão polêmica da morte do touro ou do toureiro, vez em quando. Contudo, deve-se repor o trabalho, deve-se compensar o tempo perdido. Serviços essenciais devem continuar funcionando. Temos que pagar o preço.
A outra questão é se o futebol é o nosso ópio, nossa cultura alienante. Isto é uma verdade? Sim. Mas há um ingrediente a ser lembrado, quem não precisa se anestesiar, se deixar levar pela fantasia para suportar a dor de uma realidade constante? A grande questão é que o lazer, a diversão, tem seu tempo, não pode se transformar em uma idolatria permanente, ser o sentido de nossas vidas. Viver deve ir além da ilusão. Ninguém vive bem se viver iludido.
Logo, não há nada mal no futebol. Nada a criticar a paixão pelo esporte. Nenhuma crítica ao sentimento, prazer e lazer que ele representa. Contudo, ele não pode ser o fator que nos move ou o sentido único de nossas vidas. O excesso sempre nos mata, seja de dor ou ilusão. Na vida dos adultos o peso das coisas expressa a maturidade, dentro e fora do campo.