O vestibular da Universidade Estadual de Maringá tem como leitura obrigatória a obra “Quarto de Despejo” de Carolina Maria de Jesus. Escritora que retrata a questão social pela ótica dos afrodescendentes. Uma emergência necessária para um país que precisa ver sua história pelo olhar que não seja exclusivamente branco. Carolina é a terceira autora a fazer parte da lista do vestibular. Mais um ganho em relação a literatura produzida por uma mulher, mais, negra.
Para entrar Carolina saiu Monteiro Lobado e sua obra “Negrinha”. Seria monteiro algo ultrapassado? Não, ele é autor do seu tempo. Um home que viveu a abolição e debateu a relação de herança da cultura afro no Brasil. Apaixonado pela cultura norte-americana, considerando o elemento brasileiro um atraso, Lobato fez de sua obra uma busca do desenvolvimento do país. Um nacionalista importador de ideias para a cultura tupiniquim.
O debate entre estas obras apresenta uma leitura diferente sobre a sociedade. Nosso desejo de ser o que não somos e a leitura das coisas por quem é a parte marginalizada dos fatos. A escolha de Carolina Maria de Jesus é uma vitória. O contraponto do olhar brasileiro de periferia e de identidade negra, o que somos. Mais da maioria do que da utopia elitizada da intelectualidade que, por mais que tenha boas intenções, enxergam um país ideal e não real.
O país vive um período em que precisa de um choque de realidade muito mais que utopias. Por mais que a literatura nos de um olhar subjetivo sobre os fatos, uma interpretação, ele pode nos colocar na pele que poucas vezes nos revestimos. Identidade, que por sinal, nos dá o maior tempero, o negro. Infelizmente, muita gente fica destemperada com isso.