A política é uma necessidade. Todos fazem política. No estado democrático de direito é a condição ampla de envolvimento da sociedade nas decisões do poder. A representação é uma garantia. Porém, o político se profissionaliza e gera a sensação representativa quando tem como função manter-se no poder.
O pai do liberalismo político defendeu arduamente o parlamento. Considerava que o verdadeiro poder é o legislativo. Está mais ligado ao povo, representa diretamente seus interesses. São os parlamentares que vivem em contato constante com seus representados, com os cidadãos. Logo, sabem expressar suas necessidades de forma mais intensa. Porém, Locke alertava para a não remuneração do parlamentar e sua necessidade de após um mandato retornar as fileiras do povo. Também, só deveria ser convocado em tempos de crise.
A principal preocupação do pensador inglês era com a ascensão da demagogia do líder parlamentar, caso ele se perpetuasse no poder. Se ocorresse sua permanência, o legislador defenderia seus interesses apartados dos interesses do povo que o elegeu. Faria de sua função uma forma de manter-se e não representar.
Mas o desenvolvimento da sociedade de mercado e ampla função do estado e de seus segmentos gerou a profissionalização do homem público, também do parlamentar. Max Weber trata com maestria a formação do político profissional. Mesmo para aqueles que saíram das fileiras do povo e encontraram na representação pública uma forma de fazer a vida. Desta forma, a demagogia se torna inevitável. Manter-se na função é mais importante do que o que a função pede.
Ontem, na Câmara Municipal de Maringá, venceu a demagogia e a profissionalização da política. Venceu a retórica mais que a necessidade. O fundamento religioso e a necessidade de preservar os pequenos comerciantes são utopias, que até mesmo os bons teóricos de esquerda sabem que não se sustentam. Mas para manter a falsa ligação entre o povo e o parlamentar, vale. É a profissionalização da política. Ao final, nada se resolverá de forma permanente, mas se sai com uma sensação de vitória, porém não se livra da derrota. Todos saíram perdendo ontem.