O investimento em ciência e tecnologia no Brasil nunca passou por uma situação tão difícil como agora. Dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC) mostram que o corte no investimento em pesquisas foi de 25% entre o ano passado e este ano. Se compararmos os recursos destinados a pesquisa em 2010, a redução chega a 54%. Hoje, o investimento em pesquisa é de R$ 4,7 bilhões.
Mesmo pesquisas consideradas essenciais sofreram cortes significativos. Um dos exemplos é a que estuda o Zika vírus. O empenho de R$ 20 milhões em 2017 teve mais de R$ 6 milhões que não foram pagos. Quem se empenhou e pesquisou não viu a cor do dinheiro. Para este ano a perda na pesquisa será de 35,9%.
Mas por que a pesquisa é importante? Sem o desenvolvimento de uma inteligência fundada em dados objetivos e com capacidade de diagnóstico dos principais problemas do país não há como apontar soluções eficientes. Não se pode inovar e ganhar força na economia mundial se não dominarmos a capacidade de produção científica, técnica e de inovação.
Na atualidade há centros de desenvolvimento científico e tecnológicos que exportam inteligência produtiva, exportam soluções. Seja em forma de ações ou produtos. Estes centros dominam a economia mundial. São determinantes nas políticas econômicas e na aplicação de recursos. Quem vive em regiões de desenvolvimento de ciência e tecnologia de ponta tende a ter um IDH melhor, com mais recursos públicos e privados.
Hoje manipulamos equipamentos de alta tecnologia em nossas mãos. Produtos fabricados em massa que dominam o mercado mundial. Porém, o conhecimento científico e técnico que os permitem existir não é dominado por nós. Dependemos de uma inteligência que nos domina direta e indiretamente. Estamos sequestrados com a falsa sensação de modernidade.
Ao abrirmos a geladeira, ao usarmos nossos celulares, ligarmos nossos computadores, entrarmos em uma agência bancária e usarmos o caixa eletrônico, utilizarmos automóveis, usarmos o micro-ondas, somos como os indígenas que viram desembarcar o europeu sedento pela riqueza presente na natureza e trocada por machados e serrotes. O equipamento trazido pelo ocidental encantou e deu poder ao índio, mas também foi o elemento de sua submissão. Para ter mais do que lhe dava eficiência deveria se submeter ao colonizador.
Quando não investimos em ciência e tecnologia, estamos nos submetendo à inteligência do outro. Claro, não temos que saber tudo e desenvolver todos os saberes próprios. Mas não ser capaz de produzir ciência e tecnologia nos deixa com pouco poder de negociação e dominação sobre nossas próprias vidas. É através da ciência que se tem consciência. Sem isso, vivemos um mundo de fantasia.