Lamentável o quanto a violência é sentida em vários lugares do espaço urbano. Contudo, mal entendida em sua essência. Observamos atordoados e revoltados os crimes que o tráfico de drogas promove. Nos indignamos com assaltos, furtos, roubos diários de pessoas que batalham para viver, vencer e ter algo na vida. Mas a lógica que ameaça a vida dos mais pobres e com menos renda deve ser entendida.
A violência cresceu em Maringá. Em reportagem de Carina Bernardino, com dados da Polícia Militar, o número de roubos, furtos, apreensões e prisões ligadas ao tráfico de drogas cresceu. Só deste último, 75%. Importante lembrar que parte considerável da violência cotidiana é movida pelo tráfico de drogas. O consumo de drogas cresce na proporção em que os usuários buscam uma forma de alimentar seu vício.
Mas o consumo de drogas, que alimenta a violência cotidiana, tem sua clientela. Os consumidores de entorpecentes estão em todas as classes sociais. Não há dúvida a este respeito. Mas o maior número de clientes, os consumidores mais fiéis e com um bom dinheiro para gastar estão nas classes mais abastadas, A e B. Hoje eles são mais de 85% dos usuários.
Claro que a estética da violência, aquela cotidiana, que conta com a repressão diária do aparato de segurança, incansável e interminável, se dá com as classes mais populares. É nos de menor renda que se encontram os traficantes e dependentes que promovem a violência contra a população mais vulnerável, os que ganham pouco e tem uma condição financeira menor para ter autoproteção.
Todos os dias a população que circula nos ambientes urbanos, que precisa frequentar o terminal de ônibus, os mercados populares, mora nos bairros periféricos, convive em espaços próximos onde o tráfico é intenso, está mais exposta. Ela sofre, clama por justiça. Porém, quem alimenta a sua violência diária é uma porção dos de melhor renda. São para estes que o tráfico vende a maioria dos carregamentos de drogas. É com este recurso que o tráfico se internacionaliza.
O aparato de segurança se expõe todos os dias. Policiais, com pouco recursos, lutam contra uma violência que não tem fim. Uma guerra que cresce na proporção que o volume de drogas apreendidas se eleva. A lógica do tráfico é maior do que o cotidiano relatado nos notícias das páginas policiais nos meios de comunicação. Neste conflito com um grande número de mortos, prejuízos para quem tem pouco e perdas para os que alimentam o vício dos miseráveis, há um volume imenso de dependentes bem afortunados que não aparecem nos noticiários, mas são o sustento cotidiano da violência.