O que estimula a violência? Os brasileiros estão cada vez mais propensos a defenderem o acesso as armas com mais facilidade. Desde a aprovação do Estatuto do Desarmamento em 2003, o porte de armas ficou restrito. Hoje, somente quem tem mais de 25 anos, com profissão lícita, não ter sido condenado ou estar sofrendo processo criminal, comprovar capacidade técnica, psicológica e efetiva necessidade para usar o armamento são os critérios de propriedade.
Antes do Estatuto se tinha uma liberação para a compra de armamentos. Com a implantação ocorreu uma redução do número de homicídios com armas, sai de mais de 29 mil (2003) para 25,9 (2007). Os dados são do Atlas da Violência 2017. Agora estamos assistindo um aumento do número de homicídios.
Pesquisa feita pelo Datafolha mostra que a maioria dos brasileiros é contra a liberação de armas, 55%. Contudo, este percentual já foi maior, em 2013, 68% dos brasileiros não queriam a liberação das armas.
A sensação de impunidade faz crescer o discurso de que a propriedade, posse e porte de uma arma evita a violência, o crime, e afasta o perigo. Isto é uma ilusão. A posse de armas dentro do ambiente doméstico é um risco. Ela pode facilitar acidentes e suicídios. Discussões dentro do ambiente doméstico podem ter o uso da arma de fogo como “solução final”.
Estamos em um país onde os perigos não justificam a saída extrema. Necessitamos sim de possibilidade de políticas públicas para impedir a proliferação de ambientes de risco. Onde o Estado se faz presente com políticas sociais a violência diminui.
Os homicídios são mais comuns em relações com pessoas de nosso círculo de amizade ou do dia a dia. O cidadão de bem corre mais riscos de morrer por uma arma de fogo no ambiente em que convive diariamente. O tiro pode vir de onde você menos espera.
Há a possibilidade deste armamento cair nas mãos de criminosos. Ao assaltarem a casa encontram o armamento, muitas vezes nas mãos de quem será executado por significar uma ameaça.
Temos que tomar cuidado com os noticiários da mídia quando exaltam aquele que conseguiu repelir a violência com a arma na mão. Na maioria dos casos a situação é contrária, a reação a um assalto com arma de fogo coloca em risco a vítima. Se sei que o outro pode estar armado, chego atirando, esta é a lógica de quem quer cometer o crime.
Não podemos combater um “incêndio” jogando “gasolina”. Vamos queimar muitas vidas que desejamos poupar com a retórica da defesa com a posse e ou o porte de arma. Precisams refletir para não nos arrependermos depois.