Temos uma visão distorcida dos imigrantes. A imagem construída pelos noticiários e o senso comum, carregado em muitos casos de preconceito. Temos a sensação de que eles são desqualificados e veem como um problema a mais para uma vida cheia de incertezas. Porém, as coisas não são bem assim.
Quem migra toma uma decisão difícil, ousada, que muda intensamente sua vida. Aquele que sai de sua “terra natal” deve ter uma segurança ou moeda de troca para se sentir capaz de ser aceito. Quando se olha mais atentamente para aquele que cruza a fronteira se nota algo diferente do que nosso senso comum.
O Relatório de Monitoramento Global da Educação, feito pela Organização das Nações Unidas (ONU), mostra que 26,9% dos imigrantes que chegam ao Brasil tem curso superior. Nosso índice é de 14% e média mundial é de 35%, segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Mesmo com qualificação, os imigrantes não conseguem empregos em sua área de formação. Estão à busca de uma colocação se exigências a princípio. O que os leva a sair é mais forte do que a aposta em uma carreira bem sucedida. A sobrevivência fala mais alto e como uma “mão invisível” impulsiona o deslocamento. Eles não vêm por que são convidados, mas para garantir a sobrevivência.
O Brasil é um país feito por imigrantes. O nosso território é o maior espaço de encontro étnico-cultural do Planeta. Vale a pena lembrar que o Paraná é o Estado com a maior diversidade de nações imigrantes. Somos desenhados pelo deslocamento, o qual ainda está em curso. Na economia mundial não vamos ver a consolidação populacional em um determinado território. Há uma marcha constante de seres humanos saindo e chegando a muitos lugares.
Temos que aprender a entender a imigração como uma constante. Aproveitar a oportunidade de contar com uma mão de obra qualificada e que pode suprir setores necessários para a economia. Não podemos esquecer que muitos brasileiros também se deslocam, desejam ser aceitos no seu destino. Da mesma forma, quem chega deseja reiniciar a sua vida com o mínimo de dignidade.
Se o estrangeiro é visto como suspeito, ao chegar a uma terra onde todos são filhos de imigrantes, estamos rejeitando uma condição que também nos fez, a busca por um lugar melhor e ou sair de uma condição intolerável. Ninguém é nativo nesta terra. Todos estão de passagem, assim como nossos avós. Nossos filhos e netos tendem se deslocar. Tudo é uma questão de tempo.