Resultado histórico das lutas do movimento negro, o sistema de cotas raciais aprovado pela UEM nesta quarta-feira (20) é um pouco diferente do que foi divulgado. Embora tenha sido dito que a ação afirmativa reservará 20% das vagas a partir do vestibular de inverno em 2020, na prática são 16%.
É que a proposta aprovada pelo Conselho de Ensino e Pesquisa da Universidade Estadual de Maringá reservará 20% das vagas sobre 80% delas, não sobre 100% do ofertado. É que desse total, 20% são para o PAS, o Processo de Avaliação Seriada, feito para os estudantes do ensino médio.
Dos 80% restantes, 40% são para a ampla concorrência, 20% para as cotas sociais, e a partir do ano que vem 20% para as cotas raciais.
É aí que entra a matemática. Se cada um desses percentuais fosse feito sobre o total, e não apenas sobre 80%, o número real, aí sim, seria preciso.
Em relação às das cotas raciais, dos 20% aprovados, 15% serão para negros que se encaixem em um critério socioeconômico, como ter estudado em escola pública e ter uma determinada renda, como é no caso das cotas sociais. Os 5% restantes não levarão renda e escola pública em conta.
Na quarta, durante a discussão para a votação da aprovação ou não da ação afirmativa para os negros, o professor Daniel Gardelli, coordenador do curso de física, chamou a atenção para o fato da distorção dos números. Nesta quinta, em entrevista à CBN, ele explicou esse entendimento. Por meio de operações matemáticas, Gardelli usou o curso que coordena como exemplo. De 30 vagas ofertadas anualmente, os cálculos para cotas e ampla concorrência são feitos a partir 80% delas - porque 20% já são para o PAS. O resultado disso, conforme o professor, é um número que pode chegar a menos de 16%, inclusive.
O psicólogo Paulo Vitor, do coletivo negro Yalodê-Badá, um dos proponentes do sistema de cotas, disse que o movimento não havia se atentado a essa diferença percentual. Segundo ele, a ideia é que os grupos sociais se organizem a partir dos próximos dias para pensar como fazer a cobrança para se chegar, de fato, a 20%.
Além disso, ele diz que a banca de fiscalização tem de ser pensada. A banca é quem irá avaliar quem se inscrever no sistema de cotas.
O professor Daniel Gardelli, que calculou os números percentuais, disse que a solução seria fazer o cálculo a partir do total das vagas.
A UEM conta com 20% de alunos negros atualmente, de um total de 17 mil estudantes. O grupo é composto por alunos pretos e pardos. Do restante: 66% são brancos, 6% são amarelos, 0,4% são indígenas, e 8% não se declararam.