O embate foi longo - durou aproximadamente um ano, de forma oficial, claro. No ano passado, o coletivo negro Yalodê-Badá e o Neiab, Núcleo de Estudos Afro-brasileiros, da Universidade Estadual de Maringá, protocolaram, junto à reitoria, o pedido de implementação de cotas raciais. Desde então, discussões em comissões, apresentações públicas e o debate na imprensa vinham sendo feitos. O resultado final chegou nesta quarta-feira, 20 de novembro, dia da Consciência Negra: a UEM aprovou a implementação dessa ação afirmativa.
A decisão foi do CEP, o Conselho de Ensino e Pesquisa, composto por professores de graduação e de pós-graduação. A votação terminou assim: 98 votos favoráveis, quatro contrários e sete abstenções.
No momento de declarar o resultado, o reitor da UEM, professor Julio Damasceno, se emocionou.
Foi um momento de muita emoção no auditório do bloco C34, onde ocorria a reunião do CEP. Pessoas favoráveis à implementação se abraçavam e choravam. O psicólogo Paulo Vitor, do coletivo Yalodê-Badá, ainda emocionado, falou que agora era o momento de ficar em cima para ver o sistema ser implementado. E disse que ainda não havia caído a ficha de que eles estavam fazendo história.
Na prática ficou assim: 20% das vagas dos vestibulares a partir de 2020 serão para cotas raciais. Desse total, 15% levarão em conta não só a cor da pele como critérios socioeconômicos. 5% serão livres. O candidato irá se autodeclarar, e uma comissão irá avaliar se o dado é correto.
Ao longo da reunião do CEP, houve momentos de tensão. Após um professor ter falado que era favorável às cotas, mas que temia evasões futuras e menos ingresso de pessoas não negras, ele foi vaiado.
Para o reitor Julio Damasceno e o vice-reitor, professor Ricardo Dias, sentimento de dever cumprido. Eles haviam prometido na campanha à reitoria, no ano passado, a que apoiaram a ação afirmativa.
O estudante de letras Bruno Barra foi um dos que se mobilizaram pela aprovação das cotas. Teve desgaste, mas valeu, disse ele.
A CBN Maringá acompanha a luta pela implementação das cotas raciais há anos. Reportagens da emissora ao longo dos últimos meses mostraram a apreensão dos movimentos sociais. Não à toa, um grupo de professores, formados por negros e não negros, se engajou para convencer os pares. O resultado mostra que o trabalho foi eficiente.
Com a decisão, a UEM passa a ter dois sistemas de cotas: a racial e a social.
Embora o número divulgado seja de 20% para o sistema de cotas, há quem entenda de forma diferente. É que esse percentual é sobre os 80% de vagas para o vestibular. A UEM reserva o restante, 20%, para o PAS, o Processo de Avaliação Seriada.
Agora, com a implementação das cotas raciais, todas as instituições de ensino superior públicas do Paraná passam a ter alguma ação afirmativa para a população negra.
A UEM conta com 20% de alunos negros atualmente, de um total de 17 mil estudantes. O grupo é composto por alunos pretos e pardos. Do restante: 66% são brancos, 6% são amarelos, 0,4% são indígenas, e 8% não se declararam.