Há uma “guerra civil” cotidiana. Ela existe, e não está somente nos noticiários internacionais. Ela ocorre aqui, em grandes centros do país. Há disputas por territórios em áreas urbanas. Onde a falta de infraestrutura do poder público abre espaço para o surgimento de um poder paralelo. Na prática, o abandono cria suas próprias regras.
A catástrofe no Rio de Janeiro, onde prédios que caíram eram construídos e mantidos por milícias, não é algo exclusivo da capital fluminense. O poder paralelo que se estabelece dá a população local proteção e repressão para impor seus interesses. Onde existe uma presença real de serviços ou atendimentos coletivos, uma força é reconhecida.
Cidades de médio porte, onde as regiões periféricas têm aspectos de exclusão, também apresentam o reconhecimento da força do crime organizado, por menor que seja. A vida urbana expressa desigualdades e territorializações em seus espaços. Há fronteiras de poder aparentemente invisíveis. Elas vão se consolidando e ganhando mais força conforme se amplia sua influência econômica e capacidade de intervenção na comunidade local no lugar onde o poder público deveria atuar.
Estes poderes paralelos tendem a se confrontar com o aparato de segurança e, em alguns casos, submetê-los, corrompê-los, aliciá-los. O que gera uma convivência de aparência pacífica, um armistício que reconhece a força do poder paralelo estabelecido.
O ambiente da “guerra civil” constante gera problema para uma grande parte da população. Interfere na moradia, no transporte, na saúde, na segurança, na educação, em tudo o que o poder público deveria dar garantias. É nessa condição que se perde parte considerável da população para o crime organizado e se torna difícil combater um dos principais agentes da violência.