A proposta nasceu a partir da necessidade de oferecer suporte humanizado a pessoas que vivenciam o processo de perda capilar durante tratamentos médicos e a motivação para a criação do programa foi Daiane Aparecida Ferreira.
Em 2021, ela começou a ter dores e no ano seguinte recebeu o diagnóstico: um câncer maligno, agressivo, na região da pélvica, que acabou se espalhando pela bexiga, colo do útero, reto e pela artéria ilíaca, como relembra a irmã dela, Rayane, que trabalha no Cadem. [Ouça o áudio]
Daiane iniciou o tratamento, passou por cirurgia, mas o câncer já havia se alastrado. Não havia mais o que fazer a não ser oferecer cuidados paliativos. [Ouça o áudio]
Em outubro de 2022, o tio com quem Daiane era mais apegada iria se casar. [Ouça o áudio]
Rayane desabafou sobre a situação com Ana Paula Reginaldo, uma colega de trabalho no Cadem, e contou que, apesar de querer muito ir ao casamento, a autoestima da irmã estava baixa por estar sem cabelos. Rayane começou a procurar perucas para que a irmã se sentisse bem e viu que os preços eram altos demais e não cabiam no bolso. [Ouça o áudio]
Ao vivenciar o drama da colega e da família, Ana Paula teve a ideia de criar uma maneira de oferecer perucas para empréstimo a quem não poderia comprar, a exemplo do que o Cadem faz com equipamentos médicos e hospitalares, que são oferecidos gratuitamente à população, enquanto o uso é necessário. Daiane morreu em 2023, antes de ver o projeto Fios de Esperança ganhar forma.
Naquele mesmo ano, três perucas foram confeccionadas para empréstimo a partir da doação de pessoas que cortaram o cabelo e entregaram para o projeto. A ideia, com a retomada, é confeccionar mais unidades que possam ser emprestadas e também fazer doações diretas no Hospital do Câncer. [Ouça o áudio]
Uma das primeiras perucas confeccionadas foi emprestada para a merendeira Anunciata de Jesus Carrasco, de 57 anos. Em 2023, ano em que o Fios de Esperança começou, ela foi diagnosticada com câncer de mama. O diagnóstico a entristeceu e a deixou abalada, assim como a perda dos cabelos durante o tratamento.
Foi uma agente de saúde que, durante uma visita à moradora do distrito de Aquidaban, perguntou se ela gostaria de uma peruca. Anunciata conheceu Ana Paula e levou uma peruca para casa. [Ouça o áudio]
Este mês, ao finalizar o tratamento, Anunciata devolveu a peruca para que possa ser usada por outra pessoa.
O projeto recebeu apoio de cabeleireiras da cidade que, quando sabem que o corte de cabelo é para doação, dão desconto aos clientes e já separam para levar ao Cadem. No Cadem, o cabelo doado é separado e enviado para a confecção das perucas em Mandaguari, também a um custo reduzido.
Para fazer uma peruca, geralmente, são necessários de dois a três cortes de cabelo. Não há restrição para cabelos sem tintura ou coloridos, apenas para o comprimento, que precisa ser de, no mínimo, 15 centímetros. Com a quantidade já arrecadada, a previsão é confeccionar entre 15 e 20 perucas.
Para quem quiser fazer doação ou receber uma das perucas, o Cadem fica na Rua Nossa Senhora do Rossio, 1205, no Centro de Marialva.