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Ser filho sim, ter filhos não
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 26/11/2024 - 08:00
O Brasil está envelhecendo.
As taxas de natalidade estão diminuindo, cada vez menos pessoas se interessam por ter filhos. Lembrando que a taxa de natalidade no Brasil é de 1,57 filhos por mulher. Ela já foi, no início dos anos 2000, de 2,32.
Para se ter uma ideia, em 2034 a população deve começar a diminuir no país. O Brasil que já foi o país dos jovens irá iniciar o seu envelhecimento.
Os fatores que levam as pessoas a terem menos filhos são múltiplos. Podemos considerar que as mulheres têm uma independência na qual escolhem se querem ou não ter filhos. Já não estão mais “predestinadas a serem mães”, muitas estão focadas em uma vida profissional ou pessoal.
O divórcio e os anticonceptivos também são cúmplices da redução do número de filhos. As pessoas não têm mais estabilidade nas relações para terem a segurança de um projeto de vida conjugal em longo prazo. Ao mesmo tempo, relacionamentos estáveis não estão associados à constituição de família.
Não podemos negar que é a vitória da liberdade pessoal o nó familiar tradicional. Queremos a afetividade e não a eternidade do comprometimento. São os lados bons e ruins das relações que estabelecemos na atualidade.
Porém, não ter filhos está também relacionado à experiência familiar. Sim, a vida em família já não é o que foi no passado. Os filhos se transformaram em uma função permanente e não em uma condição temporária.
Vou explicar…
Ser filho sim, se emancipar não.
Ser filho, é claro, é um título que se carrega para uma vida inteira, assim como mãe e pai. Mas, a condição de dependência sempre foi temporária. A presença dos rebentos dentro de casa tinha data para acabar. Muito cedo a emancipação chegou e o destino traçou a busca de uma vida própria. Autonomia de renda estava intimamente ligado à liberdade.
Hoje, os filhos permanecem. Não é uma questão de afetividade, é de falta de renda para terem sua própria vida. Pior, muito do que somente a independência financeira poderia oferecer agora é consentida dentro da convivência com os pais. “Para me emancipar se tudo vai me dar?”
O que é mais interessante, os filhos percebem o quanto os pais se anulam para dar aos filhos seus desejos. Uma vida que deveria ser conquistada, é comprada sem esforço. Logo, filhos não querem ser pais. Não estão interessados em ter um ser como eles para poder criar, melhor, se anular em seu nome.
Assim, a sociedade envelhece. Marcada pela angústia de um presente que desejaria se manter para uma eternidade. Gerando seres dependentes financeiramente, dentro do ambiente familiar, porém, com uma completa emancipação afetiva, onde os laços emocionais são atados por objetos em forma de concessões.
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