A UEM deixou de pedir um livro considerado racista e colocou uma autora negra e periférica nas obras sugeridas para o Vestibular de Inverno 2019. Com a medida, saiu Monteiro Lobato e entrou Carolina Maria de Jesus. O volume de contos “Negrinha”, publicado em 1920 por Lobato, foi sugerido nas provas entre 2015 e 2018. Agora está “Quarto de Despejo”, publicado em 1960 pela então desconhecida Carolina Maria de Jesus, uma mulher que vivia na favela e que teve apenas dois anos de estudo formal.
No caso de “Negrinha”, o conto que dá o titulo ao volume retrata a história de uma menina negra de sete anos que sofre nas mãos de uma mulher branca. Para muitos, a história denuncia o racismo. Para outros, e é a visão que vem ganhando força. Até porque existem fatos que mostram o racismo de Monteiro Lobato no dia a dia, ao ponto de ter elogiado a Ku Klux Klan. Quem defende o autor lembra que ele foi um homem do período em que viveu, final do século 19 e início do século XX.
Ao todo, 10 livros são sugeridos para o vestibular 2019. Dessa vez, são três mulheres, o maior número de autoras desde 2010, ao menos.
A CBN conversou com pessoas ligadas ao movimento negro, que elogiaram a iniciativa da Comissão do Vestibular Unificado.
Em relação à inclusão de Carolina Maria de Jesus, o professor da UEM Delton Felipe, ligado ao Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-brasileiros, diz que é avanço. É porque mostra que o negro também é intelectual, algo que é silenciado, afirma.
Apesar disso, o professor não quer que Lobato seja esquecido. É importante ler a obra com olhos críticos, aponta.
Quem lida com literatura também comemora. É o caso do estudante de letras e membro do coletivo negro Yalodê-Badá, Bruno Barra. “Quarto de Despejo” é uma obra que não se discute nem na escola, diz ele.
A Comissão do Vestibular Unificado explica que os livros para o Vestibular 2019 foram aprovados após uma comissão do departamento de Teoria Literária ter feito indicações.